Mulheres Denunciam Abusos Sexuais Cometidos Por “Guru Espiritual”

Mulheres denunciam abusos sexuais cometidos pelo homem que se alega médium João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus. Os relatos são pesados porque assim é uma violência sexual. Quando a violência sexual é praticada por gurus espirituais ela tem uma característica em comum – a vítima é levada a acreditar que os abusos são parte da “cura” que lhes é prometida. A vulnerabilidade neste contexto é gigantesca, pois a pessoa já está numa situação de fragilidade emocional. Os relatos mostram com muita clareza a manipulação, coerção e as ameaças enfrentadas por essas mulheres por parte deste homem. Em um dos relatos me chamou a atenção o fato de uma delas dizer que as pessoas ao entrarem na sala que ela estava junto ao João Teixeira, a olhavam com “sorrisinhos de canto”. Achei esta parte especialmente cruel, pelo fato de que ninguém pensou em tirá-la dali, ao invés de pensarem que uma mulher estava sendo abusada, as pessoas preferiram acreditar que ela estaria supostamente gostando ou concordando com o que acontecia, o que também demonstra que as pessoas, principalmente quem trabalha com ele, sabem o que acontece ali. Isso define bem como é a violência dos homens contra às mulheres, os homens são justificados e perdoados enquanto nós mulheres somos responsabilizadas e culpabilizadas pelas violências que os homens perpetram contra nós.

 

As denúncias, apenas mencionadas aqui na página, foram feitas num programa de televisão apresentado ontem à noite, e estão sendo repercutidas em diferentes plataformas de fácil acesso.

Dia Internacional da Não Violência Contra à Mulher – [ Sobre o Feminicídio]

“O feminicídio é a instância última de controle da mulher pelo homem: o controle da vida e da morte. Ele se expressa como afirmação irrestrita de posse, igualando a mulher a um objeto, quando cometido por parceiro ou ex-parceiro; como subjugação da intimidade e da sexualidade da mulher, por meio da violência sexual associada ao assassinato; como destruição da identidade da mulher, pela mutilação ou desfiguração de seu corpo; como aviltamento da dignidade da mulher, submetendo-a a tortura ou a tratamento cruel ou degradante.”
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre Violência contra a Mulher

O número de feminicídios cresce no Brasil, em relação a 2016 o ano de 2017 teve um aumento de 6,5 % de mulheres assassinadas, chegando a uma média de 12 mulheres assassinadas por dia, ou, a cada duas horas uma mulher é assassinada no país.

Feminicídio é um crime de ódio às mulheres. No Brasil o cenário mais preocupante é do feminicídio cometido por parceiro ou ex parceiro. Geralmente o feminicídio é premeditado e precede a um padrão de violência aterrador, por isso em muitos casos ele poderia ser evitado. Infelizmente muitas mulheres não conseguem evitar de serem mortas ou obter ajuda, e ainda que procurem, mesmo por meios legais, tem suas denúncias ignoradas, ou tratadas sem a devida importância e urgência. No patriarcado as reivindicações das mulheres são comumente descartadas. Assim como suas vidas.

Dia Internacional da Não Violência Contra à Mulher – [Sobre a Violência Obstétrica]

A violência obstétrica pode ser verbal ou física. A cada 4 mulheres 1 sofre deste tipo de violência no Brasil.

Agressões verbais, maus-tratos, humilhação, xingamentos, coibição e ameaças por parte do profissional da saúde. Negar atendimento, negar ou não oferecer algum alívio para a dor. Intervenções ou procedimentos desnecessários como o exame de toque a todo instante e a episiotomia – corte entre a vagina e o ânus para “facilitar” a passagem do bebê – que pode causar infecção, muitas dores e atrasar o processo de recuperação pós-parto. Cesáreas desnecessárias aumentando os riscos para a saúde da mulher e tornando a recuperação mais difícil. Não informar a mulher sobre algum procedimento médico que será realizado. Privar a mulher de ter um acompanhante na hora do parto, coisa que é garantida por lei, podendo ser qualquer pessoa que a mulher escolher, não necessariamente um marido.

Esses são alguns exemplos dessa violência, a lista é maior.

A dependência da mulher dos profissionais da saúde para que seja realizado o parto, situação que é agravada quando a dor é presente, a coloca numa posição de vulnerabilidade, e ela não tem muito como impedir as agressões.

Dia Internacional da Não Violência Contra à Mulher – [Sobre a Violência Sexual]

Em 2017 foram registrados 60.018 casos de estupro no Brasil, isso dá uma média de 164 estupros por dia. Porém sabemos que os dados são subnotificados. Existem muitas razões para isso. As mulheres além de sofrerem violências sexuais, são ameaçadas de mais violências ou morte caso denunciem seus agressores. Muitas mulheres por razões econômicas ou afetivas não podem denunciar nem se afastar de seus agressores. Também é muito frequente que as mulheres sejam acusadas de terem causado ou facilitado a violência. A triste e cruel realidade, é que na maioria das vezes as pessoas questionam as mulheres violentadas, procurando achar justificativas que absolvam os perpetradores enquanto culpabilizam a vítima. Sempre se pergunta do porquê a mulher estava tarde ou sozinha na rua, insinua-se que sua roupa era provocativa, ou que o seu comportamento não foi apropriado. Mas as mulheres são estupradas a qualquer hora do dia, independente de suas roupas ou aparência, por homens estranhos ou conhecidos. Todos estes questionamentos demonstram de forma bem definida em como funciona a opressão do patriarcado. Enquanto as mulheres são questionadas e culpabilizadas, os homens são perdoados pelas violências que eles cometem. É comum dizerem “ela estava muito bêbada e pediu por isso”, “sabia que isso aconteceria”, enquanto o agressor é desculpado exatamente pela mesma razão, “ele estava muito bêbado não sabia o que estava fazendo”. Lembrando ainda que os homens podem beber e se comportar como quiserem sem que exista esta ameaça, sem que seus corpos e integridade sejam atacados como os nossos, lhes concedendo uma liberdade muito maior de ir e vir e de ser.

Uma outra face dessa realidade, nem sempre lembrada, é a de que muitas vezes o estupro e os abusos não são assim considerados. Isso é muito comum entre casais, onde existe uma obrigação da mulher em satisfazer qualquer vontade de seu cônjuge, porque a mulher ainda é vista como propriedade do homem.

O estigma e a vergonha também são outras razões que impedem as mulheres de procurar ajuda. Isso é algo que só deixa nós mulheres ainda mais sozinhas para resolvermos o que faremos dali pra frente para não sermos atacadas novamente, contando apenas com nós mesmas para superarmos nossos traumas decorrentes desta violência brutal.

O estupro pode ter consequências físicas como doenças sexualmente transmissíveis, gravidez e traumatismos, ou decorrentes de outras agressões durante o ataque. As consequências psicológicas são imensuráveis e diversas, de fobias, depressão, transtorno pós traumático ao suicídio.

As marcas do estrupo acompanham uma mulher por toda a sua vida.

A culpa da violência sexual nunca é da vítima, mas de quem a comete.

 

Dia de Combate à Violência Contra à mulher – 25 de Novembro

Hoje estaremos ocupando o espaço público mais uma vez para denunciarmos as violências contra nós mulheres.Também será um espaço para debatermos a ofensiva fascista na atualidade. Haverá uma plenária aberta, estaremos dialogando com as pessoas e entregando panfletos. Algumas organizações e coletivos estarão com suas banquinhas divulgando materiais feministas.

25 de Novembro é Dia de Combate à violência Contra à mulher

Dia Internacional da Não Violência Contra à Mulher – 25 de Novembro

Em 1999, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o 25 de Novembro como o Dia Internacional da Não-Violência Contra à Mulher em homenagem às irmãs Pátria, Minerva e Maria Teresa. Conhecidas como “Las Mariposas”, as irmãs foram brutalmente assassinadas neste dia do ano de 1960 pelo ditador Rafael Leônidas Trujillo, da República Dominicana. As três combatiam fortemente aquela ditadura e, infelizmente, pagaram com a própria vida.

Desde que se instituiu este dia, internacionalmente, movimentos feministas marcam a data para denunciar as violências cotidianas que são cometidas contra as mulheres, com o objetivo de mudar este quadro perverso através de conscientização da sociedade.

Neste ano de 2018 em Porto Alegre, várias organizações, sindicatos, coletivos e mulheres independentes unem as forças promovendo uma plenária para tratarmos sobre as violências e sobre a ofensiva fascista que assola o país. Esta ofensiva se mostrou em discurso e na execução de ataques, causando danos físicos e psicológicos e até mesmo a morte de pessoas pertencentes a minorias ou que levantaram sua voz contra essa pregação do ódio.


Nós mulheres temos estado na linha de frente contra o fascismo e os retrocessos que tentam impor no país com a retirada de direitos alcançados e impedimentos a novas conquistas. Nós bem sabemos o que é termos direitos negados, e as violências contra nós tem muitas faces.
O número de feminicídios cresce no Brasil, em relação a 2016 o ano de 2017 teve um aumento de 6,5 % de mulheres assassinadas, chegando a uma média de 12 mulheres assassinadas por dia, ou, a cada duas horas uma mulher é assassinada no país.
Lembrando que os dados são subnotificados. Houve um aumento de 54% de violências contra mulheres negras registrados entre os anos de 2003 e 2013 – as mulheres negras são as mais atingidas pelas violências. Nós mulheres somos vítimas da violência misógina em todas suas nuances e as mulheres lésbicas sofrem violências específicas. Segundo estatísticas as mulheres brancas não feminilizadas são as mais assassinadas 39%, seguidas das negras não feminilizadas 28% , negras feminilizadas 17%, brancas feminilizadas 15% e mulheres indígenas feminilizadas 1%. Também observa-se um maior número de lesbocídios entre as mais jovens entre 20 e 24 anos, seguidas das meninas até seus 19 anos.
A violência doméstica têm números assustadores e as mulheres são assassinadas por maridos, namorados ou familiares.

No ano passado foram registrados 60.018 casos de estupro, isso dá uma média de 164 estupros por dia. A violência obstétrica também tem números alarmantes e 1 a cada 4 mulheres já sofreu violência no parto. É estarrecedora a ausência de anestesias às mulheres negras.

São muitas as violências cometidas contra as mulheres, esses são alguns dados da nossa realidade aterradora. Ainda existem mulheres invisíveis. Rostos não vistos e vozes não ouvidas. Assim é com as mulheres indígenas e dos povos rons, sinti e calons (o que é conhecido como povo cigano). No Brasil a violência sobre elas é alarmante conforme seus relatos.

Nós mulheres sempre resistimos e assim seguiremos, porque a nossa luta é por uma sociedade justa e de direitos iguais a todas e todos.

Juntas somos mais fortes!

O machismo mata.
O feminismo não mata.

#EPelaVidaDasMulheres
#NenhumaAMenos
#MulheresContraOFascismo
#FeminismoERevolucao

Frente Pela Legalização do Aborto – RS

Primavera Feminista – Setembro 2018

Em Porto Alegre:

28/09 – Dia Latino Americano e Caribenho de Luta Pela Descriminalização do Aborto – Ocupação de Mulheres // Frente Pela Legalização do Aborto – RS, às 17h no Largo Glênio Peres.

29/09 – Mulheres contra o Fascismo – Concentração nos Arcos da Redenção às 15h.

Lutando para alcançarmos o que ainda não conquistamos, lutando contra todo retrocesso e ataque às nossas vidas.

Roda de Conversa Em Apoio A Nossas Irmãs Nicaraguenses – 20.08.18

‘Nos últimos quatro meses a Nicarágua tem vivido uma grave e violenta crise política, que expõe fortemente as contradições do governo autoritário de Daniel Ortega há onze anos no poder. Mas por quê essa é também uma pauta feminista? Além da solidariedade em si com uma rebelião que está sendo violentamente reprimida, é importante conhecer na história recente da Nicarágua o papel das organizações de mulheres e feministas, que tem sido das mais ativas em combater as violências estruturais de um país marcado pelo machismo extremamente arraigado. Estas ativistas vêm denunciando há anos o caráter ditatorial e misógino deste governo – responsável pela criminalização de qualquer forma de aborto em 2006 -, assim como denunciando publicamente a impunidade de Ortega frente a graves acusações de ter abusado sexualmente de sua enteada por duas década.
Nesta roda de conversa, Ana Marcela Sarria, feminista e pesquisadora nicaraguense residente no Brasil, estará contextualizando a/a situação atual da Nicarágua a partir da vivência das organizações de mulheres, abordando também a relação desta crise com a história herdada da Revolução Sandinista, que marcou o país na década de 1980.’

Dia: 20/08/2018, Segunda Feira
Horário: 19h
Local: Fora da Asa – na Cidade Baixa em Porto Alegre

Rejeitada a Legalização do Aborto na Argentina

Por 38 votos contra e 31 a favor o senado argentino rejeita a legalização do aborto na Argentina.

Nós Lutamos, nós vamos às ruas, nós reivindicamos. E qual é a resposta que temos?  De que a nossa vida, a vida das mulheres, vale menos. Se é que vale alguma coisa para quem procura nos calar, para quem rejeita que tenhamos nossos direitos garantidos, para quem não se importa com a nossa dor, pra quem causa a nossa dor.

O patriarcado se mantendo às custas das nossas vidas, nos explorando até nosso último suspiro.

9 de agosto de 2018 e o Senado argentino rejeita às mulheres o direito ao aborto seguro. Não é possível proibir o aborto, só é possível proibir o aborto legal e seguro.

Mas seguiremos lutando. Não nos deterão.

Essa imagem fala muito mais que palavras, somos um mar de  mulheres na Argentina e em todo o mundo, em busca da nossa autonomia, do nosso direito de ser e sobreviver.

PEC 181- A criminalização do aborto em todos os casos incluindo nos que já são legalizados no país

Na quarta feira última, dia 8, foi aprovada no Congresso Nacional A PEC 181 que determina que o aborto seja criminalizado em todos os casos. A medida se baseia em afirmar que a vida começa na concepção e procura modificar a constituição que atualmente garante que o aborto no Brasil seja permitido quando é resultante de estupro, quando existe risco de vida para a mãe e quando o bebê é anencéfalo. Ou seja, esta medida prevê que mesmo em caso de estupro a mulher fica sendo obrigada a seguir com a gravidez, mesmo em caso de que a vida da mãe esteja em risco a sua vida vale menos, e mesmo que o bebê vai morrer assim que nascer, a mãe é obrigada a carregar o bebê por 9 meses. Esta medida é um retrocesso que fere os direitos das mulheres de forma avassaladora, e mostra o quão misógina é nossa sociedade que além de negar nossos direitos procura eliminar os direitos que já adquirimos, aumentando ainda mais o controle sobre nossas vidas, sobre nossos corpos. Num país onde estima-se que uma mulher é estuprada a cada 11 minutos e que os estupradores ficam na maioria das vezes impunes, podemos observar que a punição fica sobre nós. Se nós mulheres fossemos vistas como seres humanos teríamos direitos iguais e a nossa vida teria valor. É inaceitável que nós mulheres tenhamos valor apenas reprodutivo, isso nos destitui da nossa humanidade e nos coloca apenas como aparelhos reprodutores.

Os defensores desta lei se escondem por trás de uma suposta preocupação com a vida, porém eles escolhem quais vidas serão poupadas e quais não, e é a vida das mulheres que é a desprezada.

A proposta de Emenda a Constituição é do deputado Jorge Tadeu Mudalen e foi aprovada na última quarta feira por 18 homens no Congresso contra um voto apenas, sendo este da única mulher na votação. Como é possível que isso seja aceitável? É absolutamente ultrajante que os homens sejam quem decidam as leis sobre nossas vidas enquanto as deles estão protegidas. É inaceitável que sejam os homens que decidam no alto de sua intocabilidade perante a esta questão – pois suas vidas jamais estarão em jogo aqui – sobre qual vida tem mais valor.

O aborto é uma questão de saúde pública. O aborto é uma realidade independente de sua proibição, desta forma as mulheres estão sujeitas a clandestinidade, correndo risco de serem punidas pelo Estado ou mortas pelas más condições dos abortos clandestinos. Todas as mulheres sofrem com a criminalização do aborto seja pelas leis punitivas, pelas condições de saúde seja pelo tabu. Porém a criminalização do aborto também é a criminalização da pobreza, pois são as mulheres de classes mais baixas com menos condições de conseguirem o procedimento. Além disso são também as que mais morrem (embora não as únicas), em decorrência da precariedade dos métodos utilizados. E sendo um país onde o racismo é estrutural as mulheres negras são as mais atingidas.

Nós mulheres não aguentamos mais sermos massacradas e destituídas de direitos, nós estamos fartas de lutarmos por nossa sobrevivência e ainda vermos nossos esforços sendo desprezados ao nos dizerem que já vivemos num mundo de “igualdades”.

 

Aline Rod.

Transativistas Atacam Mulheres em Londres – 13.09.2017

Não importa o quanto transativistas cometam e defendam essa violência ela tem um nome: VIOLÊNCIA MASCULINA MISÓGINA!!

Mulher de 60 anos é agredida por transativistas no Speaker’s Corner em Londres na última quarta feira dia 13. localizado no Hyde Park este era o ponto de encontro para feministas e pessoas interessadas em participarem do evento chamado “O que é Gênero?”. O debate tinha sido primeiramente marcado para acontecer numa biblioteca comunitária em Londres, mas as organizadoras sofreram perseguição e ameaças por transativistas e a biblioteca cancelou o evento um dia antes, dia 12. Porém para seguirem com o evento, foi organizado um outro local, que desta vez foi mantido em segredo para garantir a segurança dos participantes. Apenas o ponto de encontro foi divulgado, dali seguiriam para o novo local.
E então transativistas apareceram no Speaker’s Corner para protestar contra o evento, foi quando, como aparece no vídeo, um transativista chega para agredir uma das mulheres que estavam ali. Logo depois outro começa a dar socos na feminista que desvia para se proteger.

Feministas estão sendo silenciadas e censuradas por serem críticas a noção de gênero. Até quando mulheres terão que sofrer ameaças e agressões? isso que está acontecendo a muito tempo vem sendo abafado pelo medo que as pessoas tem de serem erroneamente acusadas de transfobia por qualquer desacordo que tenham com as teorias de identidade de gênero.

A segurança dos homens para cometerem violências e a culpabilização das mulheres

A invasão dos homens ao espaço e corpos das mulheres é uma violência comum, cotidiana, cometida de várias formas. Na semana passada essa realidade se tornou bastante evidente quando um homem ejaculou no pescoço de uma mulher no ônibus. A gravidade da violência e também por ter sido cometida em espaço público não teve como ser abafada como são outros tipos de violências cometidas contra às mulheres.

Parte mais leve desta realidade, digamos assim, nós todas as mulheres estamos bastante acostumadas a lidar. Pegando apenas a invasão dos homens em transportes públicos eu não saberia contar as vezes que homens invadiram meu espaço ou cometeram abusos. Uma vez um desconhecido tirou o fone do meu ouvido para falar comigo. Eu achei aquilo ultrajante e peguei meu fone de volta e não lhe dei mais ouvidos literalmente. Isso só para ilustrar o direito que os homens se sentem de invadir o espaço das mulheres. Os homens constantemente interrompem mulheres, quando falamos e quando estamos no nosso silêncio. Quando estamos fazendo algo que eles julgam que fazem melhor começam a nos explicar muitas vezes coisas que já sabemos muito bem ou melhor que eles. Quantas vezes vendo a fraqueza dos homens em querer provar um conhecimento sobre algo banal, eu me vi lhes ouvindo apenas por constrangimento alheio. Muito provável que o meu sentimento de “constrangimento alheio” tenha raiz justamente na questão de que nós mulheres somos criadas a sermos compassivas e compreensíveis. A compaixão e a compreensão embora sejam consideradas virtudes para humanos, elas são muito mais uma obrigação para as mulheres do que para os homens. Os homens são mais estimulados a serem “autênticos” e suas ações ásperas são comumente justificadas como “homem de temperamento forte”, “não leva desaforo pra casa”, “um verdadeiro homem”, enquanto nós por reagirmos mesmo quando sem agressividade somos sempre “a louca”, “a histérica”, “a mal amada”.

Eu realmente não saberia dizer quantas vezes fui importunada no ônibus. Aos 13 anos porém eu passei pelo primeiro abuso de grau mais grave no transporte coletivo. Nesta primeira vez eu estava sentada na janela olhando pra rua pensativa como já era meu hábito, aguardando como todo mundo que está ali aguarda – minha parada chegar. Então eu sinto algo na minha vagina. Algo impossível de não sentir, porém devido a total discrepância daquilo que eu sentia com o que me parecia razoável em termos reais – ali no ônibus afinal das contas – eu cheguei a questionar a mim mesma se eu realmente tinha sentido aquilo. Eu não entendia de onde vinha aquilo. Porém eu olhei instintivamente para trás e havia um homem de seus mais de 30 anos, ele me olhava e tinha um sorriso sarcástico no rosto. Eu não soube o que fazer no primeiro momento. Eu soube porém que eu não teria como provar que aquilo tinha acontecido, e me bastou um segundo de observação para saber- o homem colocou a mão no vão do banco, entre o assento e o encosto, como eram os assentos na época, porque ele se achou no direito, e mais que isso- é importante ressaltar – se achou seguro para fazê-lo. Eu passei o resto do percurso elaborando uma estratégia em como eu desceria do ônibus, e se ele descesse atrás de mim? Eu também pensei em mudar de lugar mas eu me senti paralisada, eu julguei que seu eu me levantasse seria confirmar que ele havia me atingido. Muito estranho aquele meu pensamento, eu queria fingir que ele não havia me tocado, mas não por mim, eu queria que ele achasse que não tinha sido bem sucedido, embora eu queria sair correndo dali.

É muito desproporcional que os homens se sintam seguros para cometerem os abusos que cometem, incluindo em espaços públicos, e nós mulheres não nos sentimos seguras para reagir, pedir ajuda ou denunciar os abusos que sofremos. Isso é importante ressaltar. Não estou falando com isso que nós mulheres não reagimos, estou falando que é desproporcional a segurança com que os homens sentem de cometer abusos em relação a falta de segurança que temos e sentimos para reagir aos abusos. Isso é parte da guerra não declarada contra nós mulheres e que estamos “acostumadas”, nos cabendo apenas sobreviver no meio desta guerra da melhor forma que podemos. Muitas de nós não sobrevivem.

Alguns anos depois, lembrando que estou me atendo apenas a violência masculina no transporte público, lá estava eu, novamente num ônibus aguardando a hora de chegar em casa numa noite de segunda feira. Então senta um homem ao meu lado. Como era noite e eu olhava pela janela, foi possível pelo reflexo do vidro ver uma movimentação estranha vindo do homem. O braço dele mexia sem parar porém estava embaixo de uma pasta. Eu soube na hora o que ele fazia mas eu me senti travada para fazer alguma coisa. Eu novamente não estava preparada para aquilo, eu acho que nunca vou estar completamente, embora com o tempo de vida hoje me sinto bem mais capacitada para agir contra a violência masculina, mas não imune.

As pessoas costumam me considerar autoconfiante, com capacidade de resposta. Mas eu não consegui naquele momento colocar em ação toda essa minha virtude, ou defeito já que como mulher pode ser considerado como tal. Foram inúmeras vezes que já revisitei este episódio tentando entender do porquê eu não ter falado com as pessoas ao meu redor, ou ter chamado a atenção do motorista, ou cobrador. Uma das razões eu lembro, foi de que eu poderia estar cometendo um equívoco já que o que o homem fazia era literalmente por debaixo dos panos. Uma outra razão que eu também encontrei depois de recordar sobre o “ocorrido” foi vergonha. Eu senti vergonha por estar sendo atacada, como se houvesse uma espécie de culpa em mim, como se fosse possível que eu fosse a culpada. A vergonha que eu senti foi uma vergonha por antecipação, é como se eu soubesse que as pessoas me olhariam incrédulas, desconfiadas e ou iam me questionar sobre o que eu tinha feito para aquele homem fazer aquilo.

De certa forma a autoconfiança que eu procurei desde pequena desenvolver apesar de todo bombardeio do patriarcado que nós mulheres recebemos para não desenvolvermos, acho que foi o que me levou naquele dia a julgar que eu poderia me livrar sozinha sem ajuda das pessoas. Então, como da vez do primeiro abuso no ônibus, eu comecei a pensar numa estratégia de como sair daquela “situação”. Eu estava apavorada, mas conseguia raciocinar, eu jogava com o tempo e na verdade precisava que demorasse bastante, que o ônibus parasse em todas paradas possíveis até eu descobrir o que fazer. Eu sabia que principalmente naquelas circunstâncias, eu não poderia descer sozinha na parada de ônibus próxima a minha casa que era um local ermo e sem iluminação pública decente, era noite por volta das 23h. Depois de avaliar bastante, eu encontrei uma possível saída para o meu problema e decidi que era melhor eu descer uns dois quilômetros antes de casa, pois isso se daria numa avenida supostamente mais movimentada e que se caso ele descesse eu teria mais chances de não ser atacada. Para o caminho a percorrer depois até em casa à noite e sozinha, bem essa seria uma nova estratégia a solucionar. Também como parte da minha estratégia, eu pensei em descer só quando o ônibus parasse, ao contrário do comum que é levantar com certa antecedência e puxar a cordinha (que hoje é um botão). Esta estratégia porém era arriscada, pois dependia de que alguém solicitasse parar aonde eu queria ou que alguém solicitasse o ônibus da tal parada. Decidi arriscar. De repente faltavam três paradas para o meu destino – que não era de fato o meu destino final. Como para uma mulher pode ser difícil chegar em casa sob essa realidade, e ela também pode nunca chegar. Fui me preparando psicológica e fisicamente para tanto. Quando a parada chegou eu pulei do assento o mais rápido que pude e contornei as pernas do homem que se masturbava incessantemente, sempre por debaixo da pasta, imaginando que o mesmo não desceria já que não havia se levantado e solicitado a parada, e que teria um pingo de vergonha de mudar de ideia em cima da hora. Eu não sei porque cargas d’água eu pensei que um homem que não tinha vergonha de se masturbar em público pudesse realmente sentir vergonha de qualquer outra coisa. Desci com uma espécie de alívio que durou apenas um segundo pois ao olhar para trás para me verificar da minha segurança, como num filme de horror, ali ele se encontrava, na mesma parada que eu. Ele havia descido do ônibus. Pânico. Isso só me confirmou o que acontecia e os meus medos do que me poderia acontecer. Para minha “sorte” tinham três pessoas na parada e eu fiquei torcendo para que elas ali se mantivessem até eu bolar o plano B. E o homem se manteve igualmente ali aguardando sua presa. Ele me mantinha como refém. Tudo em silêncio. Tudo sozinha. Então uma pessoa pegou o próximo ônibus e dali uns minutos a segunda, quando eu vi que logo a terceira pessoa ia pegar o seu ônibus eu resolvi agir rapidamente, olhei ao meu redor e vi um grupo de pessoas se aproximando, eram três homens, eu então disse olá tudo bem? E comecei a caminhar com aqueles homens, o que não me garantia muita segurança, mas eu não tinha muitas chances. Eu não pensei na época em confrontar fisicamente aquele homem que havia se masturbado no ônibus e pronto para me atacar, além dele ser bem maior do que eu, eu não sabia se ele estava armado, eu tampouco estava interessada em dar-lhe as costas e esperar para que me atacasse. E foi assim que eu me livrei desse homem, os três caras estavam indo para a mesma direção que eu e nos separamos a umas duas quadras antes da minha casa.

Havia porém uma outra razão para eu ter ficado em silêncio durante todo o meu suplício, que nesta narrativa eu escolhi deixar para o final. Eu lembro que eu pensei que se caso eu procurasse ajuda das pessoas no ônibus e caso elas não agissem com indiferença e me fizessem sentir vergonha, que podia acontecer que se desencadeasse o linchamento daquele homem. Parece esquisito eu ter escolhido a integridade física daquele homem em contraponto a minha própria. Mais tarde quando eu já estava segura eu só pensava que ele poderia estar atrás de uma outra mulher e agora eu me sentia culpada perante a esta conclusão.

Vendo que dos últimos casos de violências contras às mulheres das últimas semanas surgiram debates sobre punitivismo eu me lembrei de tudo isso que me aconteceu de todos os detalhes, e me perguntei, de quem e para quem essas pessoas estão falando sobre punitivismo? Quem são as pessoas em grande maioria que além de cometerem as violências primárias costumam cometer crimes de vingança? Pergunto, fora considerar que as denúncias feitas por mulheres contra homens podem talvez se tornarem escrachos e possíveis mas muito improváveis linchamentos o que está sendo feito para parar a violência dos homens? Quais medidas a esquerda tem tomado para acabar com a violência masculina? Nem mesmo acreditar nas mulheres agredidas a esquerda costuma acreditar, são incansáveis as denúncias de abuso que não mudam absolutamente nada na vida do agressor que muito pelo contrário continua andando pelos mesmos cenários que sempre andou. Então esta questão sobre o punitivismo além de tudo o que já foi mencionado é também falha em vários sentidos. Ela parece se alienar da realidade material. As pessoas que estão sendo punidas em primeiro lugar são as mulheres. Não que o debate sobre punitivismo não possa acontecer, mas também ele demonstra a prioridade da preocupação com a segurança dos homens. A misoginia é estrutural, dar menos importância a segurança das mulheres é sua consequência. Dentro de uma perspectiva de debate você sempre pode escolher uma neutralidade, se distanciar para elaborar teorias que podem até fazer sentido, teoricamente, mas que não correspondem com a realidade ou que favorecem os opressores, neste caso a neutralidade pode ter escolhido um lado.

Os homens mantém as mulheres como reféns, o patriarcado e a misoginia inerente a ele, nos atingem diariamente, a nossa rotina pode ser pesada e perigosa, mas nós mulheres somos sempre culpabilizadas, seja por estarmos no “lugar errado”, na hora “inapropriada para uma mulher”, com as roupas “erradas” (ou não), seja por vocalizarmos nosso sofrimento com o preço de sermos as responsáveis pela segurança dos nossos algozes.

 

aline rod.