A luta é através da consciência da nossa classe – 8M

“A mulher não nasce: ela é feita. No fazer, sua humanidade é destruída. Ela se torna símbolo disto, símbolo daquilo: mãe da terra, puta do universo; mas ela nunca se torna ela mesma porque é proibido para ela fazê-lo.”

– da mestra Andrea Dworkin

Zine Nem Escravas Nem Musas confeccionado a 18 anos de dias de luta atrás.

Nos últimos tempos minhas ideias ficam numa nuvem que vai crescendo e fica pairando sobre minha cabeça como uma espécie de sombra, tá sempre ali mas ficam vaporosas. As coisas sempre andaram muito rápidas para nós feministas. Todo dia é uma batalha pra ganhar, não me refiro a uma batalha minha, sim existe também, mas falo da coletiva, de tudo que acontece no mundo todos os dias para mulheres. E quando deu pra vislumbrar um horizonte – distante e frágil – mas esperançosamente possível, veio mais backlash, como é inerente ao patriarcado. O horizonte não era de forma alguma o paraíso, mas de que haveria uma maior consciência da classe de mulheres dentre as que embarcam no enfrentamento, pois sem essa consciência fica impossível lutar. E a gente seguiu combatendo. E cada coisa que denunciamos, que questionamos, veio com ataques mais ‘sofisticados’ e estrategicamente direcionados à solidez da classe. Os ataques se transformaram em uma bandeira supostamente “feminista” ao ponto de ficarmos isoladas e irmos deixando espaços de luta por eles não serem mais de luta mas de complacência ao masculinismo. A ideia de classe, em direção contrária, se diluiu.

Mas minha nuvem tá sempre comigo e em algum momento vai chover e se materializar como água adentrando numa terra infértil para o avanço das mulheres.

Seguiremos lutando porque só seremos livres quando todas formos livres.
Bom dia de luta!

atualizado 09.03.25

PL 232/2021 propõe impedir o aborto de gravidez decorrente de estupro

A cortina de fumaça é justamente outra. O programa do governo e seus apoiadores tem como prioridade extinguir os direitos das mulheres. No Brasil, o aborto é permitido em gravidez decorrente de estupro, de risco de vida à mulher e quando o feto é anencéfalo. Também é permitido para meninas porque a gravidez de uma menina é sempre de risco e decorrente de estupro, nunca é consentimento, é estupro de vulnerável, e isso vai para além de leis. Acontece que o aborto legal já é de difícil acesso para mulheres e meninas, que acabam recorrendo à clandestinidade, fazendo parte muitas vezes das milhares que morrem todos os anos devido aos abortos inseguros. O aborto legal é também negado, coisa que não poderia ocorrer, como aconteceu no caso da menina de 10 anos estuprada pelo tio no ES, tendo que se deslocar para Recife enquanto a chamavam de assassina.

Todas as dificuldades e recusas de acesso ao aborto são falhas graves em garantir os direitos humanos das mulheres. O aborto precisa ser legalizado em todos os casos que uma mulher assim queira e necessite. Essa é uma luta árdua e longa, mas o que temos é uma campanha anti- mulher implacável, que busca retirar todos os nossos direitos, os já alcançados e os que ainda estamos lutando a duras penas para alcançar. Um projeto que exige boletim de ocorrência e exame de corpo de delito para comprovar o estupro é projeto para institucionalizar ainda mais a violência misógina. Ele apenas serve para impedir um direito que é das mulheres e para inflamar um discurso que se tem de que a mulher mente quando diz que é estuprada, ao mesmo tempo que abraça e protege incondicionalmente os homens estupradores. Isso é o masculinismo. E o masculinismo é infelizmente propagado muitas vezes por mulheres, que fazem uma luta contrária à nossa libertação das opressões do patriarcado. Talvez aguardando alguma migalha do banquete onde predominantemente os homens estão saciados. Assim é a PL de Carla Zambelli apresentado no 04.02.2021, onde diz “…tornar obrigatória a apresentação de Boletim de Ocorrência com exame de corpo de delito positivo que ateste a veracidade do estupro, para realização de aborto decorrente de violência sexual”. Nenhuma mulher estará livre enquanto todas não formos livres.