Nos protestos pelo Brasil pudemos observar que o machismo também “saiu às ruas”. É importante ressaltar isso, principalmente porque o machismo é sempre abrandado, quando não negado, e historicamente ignorado devido a “coisas mais importantes para se resolver ou para se focar”.
Desta vez porém, referente aos protestos, observamos e denunciamos o sentimento ufanista, a necessidade desesperada de caracterizar o movimento como pacifista, a violência perpetuada contra pixadores, a perseguição de manifestantes alcunhados como vândalos, a tentativa de cooptação da direita, a infiltração de neonazis e da própria polícia, entre outras questões.
Nada menos do que imprescindível nos atermos sobre questões que sim, não tenham impedido os protestos de continuarem, mas que incomodaram uma grande parcela de manifestantes, principalmente mulheres e que podem sim terem impedido algumas de continuarem participando. Geralmente em eventos públicos, com aglomeração de pessoas, a gente vê manifestações de racismo, machismo e heterossexismo, e normalmente as pessoas ficam caladas. Tais preconceitos não acontecem apenas em eventos e aglomerações obviamente, diariamente nos deparamos com situações machistas, racistas e heterossexistas e nem sempre temos na ponta da língua uma resposta, ou não dispomos de energia, ou “presença de espírito” para respondermos, ou simplesmente percebemos outras problemáticas implícitas numa possível explicação. Além do que, estes preconceitos são reproduzidos de forma sistemática e normalizada, o que dificulta tentativas de diálogo que são tratadas com hostilidade, descartando que hostil é a manifestação do preconceito em primeiro lugar.
De certa forma poderia ser mais fácil confrontar preconceitos em situações similares a protestos como este, onde é trazido à tona as desigualdades, já que existe um terreno propício ao questionamento. Mas parece não ser tão fácil assim.
Os protestos estão dizendo que não aguentamos mais as desigualdades sociais e de classes, e que estamos dispostas a lutar por demandas que nos são importantes e necessárias para nossas vidas e para a sobrevivência de vários grupos. Desta forma precisamos dar atenção para não oprimirmos outros grupos que sofrem outras opressões.
Durante estes protestos surgiram cartazes e gritos machistas, como os referentes a Dilma não enquanto presidente, mas enquanto mulher, como no cartaz que dizia: “de quantas mulheres precisa pro Brasil afundar? Di(u)ma.” Piadas como esta, estão carregadas de misoginia mas são encaradas com naturalidade, e fazem “todo mundo” rir. Exceto a quem ela atinge, como são as piadas de negros e de “viado” ou “sapatão” em que as pessoas dizem “não sou racista/homofóbico mas escuta essa!”
Ouvi em diferentes momentos mulheres serem chamadas de vadia no meio dos protestos, por não corresponderem ao esperado delas. Argumentei com estas pessoas que não fazia sentido elas se referirem assim àquelas mulheres e recebi de volta comentários de desprezo também por eu ser mulher.
É importante combatermos as opressões, incorporando como ação importante nas nossas lutas e no nosso cotidiano, até que o machismo, a misoginia e o preconceito encontrem resistência, e passem a não ser mais uma normalidade.