Mais uma vez nós mulheres tomamos a frente e estivemos nas ruas porque lugar de mulher é na luta. Nosso primeiro ato foi um dos maiores da história desse país porém fomos alvos de duríssimas críticas, tanto da direita quanto da esquerda masculinista. Outros fingiram que nada havia acontecido. Mas como podem fingir que milhares e milhares de mulheres estão passando pela porta da sua casa? Em uma das respostas a isso eu disse o seguinte: “Olha, que a mídia vire as costas pros atos gigantescos em todo o Brasil e no mundo em mais uma tentativa malsucedida de nos silenciar, eu já esperava. Mas agora, que homens da esquerda ignorem, finjam que não tá acontecendo nada, e ainda criem teorias, mansplaining milhões de mulheres em como se combate “de verdade” o fascismo, por essa eu não tinha dúvida nenhuma.” De fato não foi uma surpresa que homens de esquerda começassem a nos criticar, seja por acharem que “não sabemos como combater o fascismo”, seja por acharem que contribuímos para que aumentasse a visibilidade do Bolsonaro. Como se fosse possível lutar contra um inimigo sem nominá-lo.
Nós fomos milhares e milhares de mulheres de vários contextos diferentes, crenças diferentes, posicionamentos políticos e ideológicos diferentes mas nos unimos numa manifestação popular a qual organizamos e lideramos. E me parece que isso em si é uma ousadia, afinal como ousam as mulheres saírem da esfera doméstica e irem para as ruas organizadas e liderando uma manifestação política?
Não é a toa que nós mulheres fazemos essa frente, é porque Bolsonaro e suas ideias objetivam impedir que avancemos na luta pelos nossos direitos e igualmente tirar os direitos arduamente conquistados por nós. Bolsonaro e suas ideias são uma ameaça real a nossa sobrevivência.
Nós mulheres lutamos pela nossa sobrevivência todos os dias.Toda mulher é uma sobrevivente. E nesta hora não seria diferente. Estamos nos defendendo de sermos exterminadas, de sermos ainda mais exploradas e violadas do que já somos. Nós mulheres estamos cientes e juntas defendendo outras classes que também são alvos do fascismo. Nós nunca fomos a classe egoísta (se fosse esse o caso) muito pelo contrário, nós somos a classe que nutre, que cuida, e embora este seja um papel que devemos questionar, a realidade é que não vem de nós o esquecimento àqueles que precisam de nosso apoio, trabalho e esforço. Somos nós as que somos constantemente esquecidas ou colocadas em segundo plano, até mesmo por nós mesmas.
A nossa luta vai para além das urnas, precisamos continuar nos organizando e seguirmos combatentes. Por hora porém a luta está também neste que é um dos campos de batalha nesse momento da nossa história, pois seria irresponsável, mesmo sem concordar com o sistema político e eleitoral, que ele não esteja exercendo influência na sociedade e consequentemente nas nossas vidas, ou ainda ignorar que não esteja acontecendo uma eleição com proporções de ascensão ao fascismo. Negar esse sistema não derruba este sistema. Apenas nos organizando que seremos capazes de mudanças reais.
Imagens da manifestação Mulheres Contra Bolsonaro em Porto Alegre, 20.10.2018.