Viemos através dessa carta denunciar a conduta misógina e racista dos homens do coletivo Sete/nove e todos os que compactuam com essa atrocidade. Estamos todas humilhadas, abusadas, desrespeitadas, expostas e usadas. Isso é sobre todas as mulheres que foram vítimas desses caras.
O Sete/nove é um coletivo de fotografia de Porto Alegre composto por Alexandre Rudá de Melo e Henrique Fortes. Eles são os responsáveis pela organização do evento Selva#01, no bar CARIBE, Avenida João Pessoa nº905 e que tinha como proposta a “celebração para seres de todas as espécies (tipo horóscopo chinês), (…) SELVAgens salvarão o mundo, Pacha Mama te amamos, bixogrilagem inédita, aqui todos somos SELVA”.
Associadas a esta descrição estavam, primeiramente, fotos de mulheres brancas, dentro dos padrões de beleza impostos pela nossa sociedade, caracterizadas como indígenas, sexualizadas e em poses “selvagem”. Estas fotos geraram diversas críticas à festa, feitas principalmente por mulheres. Após os questionamentos, os organizadores da festa trocaram a imagem para outra que era composta por homens e mulheres, ainda caracterizadxs como índigenas e selvagens. Posteriormente, incluíram a foto de uma mulher branca pintada de preto, na tentativa de caracterizá-la como uma mulher negra, novamente em poses selvagens, expressando todo seu racismo velado na divulgação de uma festa chamada Selva.
Os questionamentos acerca da objetificação da mulher continuaram e nova problemática surgiu referente ao blackface, atitude racista por ser uma caracterização esteriotipada dx negrx. Muitxs denunciaram o racismo presente na foto e como resposta foram ignoradxs e tiveram seus comentários apagados. A polêmica em torno do flyer permitiu que outras companheiras se sentissem à vontade para compartilhar relatos acerca de condutas machistas e racistas adotadas pelos sócios da sete/nove em relação à elas. De repente, recebemos uma enxurrada de reclamações e denúncias de mulheres que, encorajadas pelos relatos umas das outras e pelo apoio das companheiras, romperam o silêncio que só protege os opressores e se uniram para se proteger. Denúncias como o fato de fotos dos seus peitos e suas bundas tiradas sem consentimento estarem disponíveis nas páginas de domínio desse coletivo, ou de meninas que se sentiram (ou que observaram outras meninas serem) desrespeitadas/enganadas durante ensaios fotográficos, além da evidente ausência de negrxs nas fotografias (sendo que quando estxs aparecem são mostrados de forma embranquecida).
Com uma breve pesquisa e com as informações facilitadas pela sensação de sororidade que se criou em torno desse evento, conseguimos compilar prints e links de outras atividades fascistas dos sócios da sete/nove como um grupo de teor extremamente misógino onde mulheres são expostas, avaliadas, hiperssexualizadas e objetificadas. Os dois têm seus nomes também ligados a uma conta no aplicativo instagram @iscagram que além de se referir às mulheres como ‘iscas’, expõe diversas pessoas em situação de vulnerabilidade de maneira debochada, como meninas desmaiadas ou passando mal em festas e vulnerabilidade social com fotos de moradores de rua. A expressão largamente utilizada por eles e seus amigos próximos ‘cadilandra’ (que segundo eles significa uma ‘gata malandra’) aparece tanto no grupo secreto misógino que se chama “Fórum da Cadilandragem” e em uma página de conteúdo também machista e misógino que se chama “Não sou Cadilandra mas…”. O administrador do grupo secreto é o Henrique Fortes e ambos os sócios apresentam ampla participação na página.
Mesmo depois de todo essa repercussão negativa sobre o evento, não foi cogitada uma retratação, nem o cancelamento da festa.
Como não houve diálogo, mesmo depois de diversas tentativas de nossa parte e à luz das novas informações a respeito dos organizadores do evento, resolvemos organizar um escracho no dia e local da festa. O nosso objetivo era denunciar e boicotar o evento. Cantamos nossas palavras de ordem, que manifestavam nossas opiniões sobre o machismo e o racismo praticados pelo coletivo sete/nove, não só na divulgação dessa festa, mas cotidianamente. Éramos vozes, palmas e batucadas em baldes pra fazer barulho. Os organizadores, quando saíam de dentro do bar para ‘espiar’ nossa manifestação tomavam um ar arrogante e nos provocavam com sorrisos debochados. Por volta da meia noite o dono do bar apareceu, já agressivo, falando que estávamos prejudicando o negócio dele. Tentamos dialogar e fomos ameaçadas de agressão. Mesmo assim, continuamos cantando. A polícia foi chamada pelo dono do bar e quando chegou ao local não fez absolutamente nada, sendo leviana com nossa denúncia de ameaça e com a denúncia de racismo dxs companheirxs negrxs. Na presença da brigada, um dos seguranças do bar saiu do estabelecimento, juntou-se à roda de pessoas na calçada e passou a fazer movimentos para intimidar os presentes, estralando os dedos e pescoço.
Mais pessoas se acumulavam em frente à festa: muitas não entravam, mas também não se juntavam a nós, estavam ali como espectadores. Outras, passavam pelo escracho e entravam na festa. O canto continuou, com novxs amigxs se juntando para dar força e cantar junto. Durante todo o processo, amigxs próximxs dos sócios da sete/nove ameaçaram, intimidaram e agrediram verbal e fisicamente várixs companheirxs (principalmente mulheres).
Em determinado momento, duas companheiras e um companheiro sentaram-se no degrau da porta do estabelecimento. Nesse momento o dono apareceu, com as mãos pra trás e protegido pelos seus dois seguranças. Ao ser questionado sobre o que tinha nas mãos, o dono do bar Caribe e os seguranças puxaram os cabelos de uma companheira e desferiram chutes nas costas de outra. Em seguida, o dono do bar atingiu várixs companheirxs com o CASSETETE que tinha nas mãos. Uma das meninas que estavam sentadas foi atingida na cabeça e começou a sangrar muito. As duas companheiras agredidas foram acompanhadas ao HPS onde realizaram os B.O e exames de corpo de delito. Parte dxs companheirxs permaneceu no local, absolutamente indignadxs e chocadxs com a atitude da produtora de continuar a festa como se nada tivesse acontecido. Xs companheirxs presentes no local chamaram a polícia diversas vezes e pediram para que outrxs companheirxs que acompanhavam por meios virtuais a manifestação também ligassem para a polícia para exigir que se dirigissem à João Pessoa. Decidimos então interromper o trânsito na avenida numa tentativa de atrair a polícia para o local, já que nenhumx de nós se sentia segurx estando ali.
Foram mais de 40 minutos com a rua fechada, até que a polícia aparecesse dizendo que estava ali pra cuidar do trânsito somente, que agressões aconteciam todos os dias e que podíamos continuar fechando a rua se quiséssemos.
Embora estivessem acompanhando nosso protesto desde o início, informadxs sobre o que aconteceu, a maioria das pessoas presentes (muitxs dos quais estavam em rodinhas ou sentadxs no meio fio do corredor de ônibus em conversas animadas num clima de confraternização de rua) estavam apáticxs com relação à violência sofrida pelas meninas. Integrantes do coletivo fotográfico Ovos e Llamas – que usa o espaço do bar Caribe e intermediou o contato entre o estabelecimento e o coletivo sete/nove – também não se posicionaram frente à situação¬. Os sócios da sete/nove circulavam livremente pela rua, que a essa altura já estava tomada por risos, cerveja e socialização. O clima por parte dxs organizadorxs era de deboche e vitória. Como durante o trancaço da rua houve alguns desentendimentos entre amigos/apoiadores do coletivo sete/nove e xs companheirxs manifestantes, avaliamos que se continuássemos em atrito com a organização do evento, ou com o dono do bar, provavelmente sofreríamos mais agressões, principalmente quando as pessoas que estavam dentro da festa saíssem. Não tivemos outra alternativa senão ir embora.
O que presenciamos nesse evento do sete/nove, pra muito além de todo racismo e machismo sofridos, foi a reação de uma classe média fascista, conivente com todo o tipo de violência contra a mulher e minorias, e que se recusa a reconhecer seus privilégios. Nesta noite, todxs xs espectadores daquelas situações absurdas de misoginia e racismo, todxs que entraram na festa, compactuaram com a violência sofrida por essas mulheres. Todxs são responsáveis pela agressão cometida pela equipe do bar Caribe. TODXS TÊM O SANGUE DAS COMPANHEIRAS AGREDIDAS NAS MÃOS. Sete/nove é fascismo!
Estamos organizadas, tudo o que foi relatado está gravado em vídeos e fotos, e não nos calaremos!NÃO TEMOS MAIS MEDO! NÃO PASSARÃO!PERFIL DO RUDÁ
https://www.facebook.com/rudaphotos?ref=ts&fref=ts
PERFIL DO HENRIQUE
https://www.facebook.com/henriq.fortes?ref=ts&fref=ts
LINK DO EVENTO
https://www.facebook.com/events/1434738396771045/?fref=ts
PÁGINA “Não sou cadilandra mas…”
https://www.facebook.com/profile.php?id=451334091596002&fref=ts
ÁLBUM COM PRINTS DO GRUPO MISÓGINO
https://www.facebook.com/simone.doescracho.9/media_set?set=a.1386549674957114.1073741830.100008062836537&type=3&uploaded=9
TUMBLR:
http://sabotesetenove.tumblr.com/
Tag: cultura do estupro
Manifesto Yaki Livre!
Tirado de http://yakilivre.noblogs.org/manifesto-yaki-livre/
Esta é uma tradução ao português do manifesto escrito pelas companheiras mexicanas que estão na luta pela liberdade de Yakiri. No momento de publicação do manifesto, 17 de fevereiro de 2014, em “La Hoguera”, Yaki ainda estava presa. Agora, aguarda o processo em “liberdade”,depois de pagar no ato 140 mil da fiança, que foi fixada em 423.800 pesos no dia 5 de março, 86 dias depois da sua prisão. O valor total da fiança corresponde a cinco mil vezes o salário mínimo e é o valor previsto em constituição cobrado em relação a homicídios sem atenuantes. Mais uma vez o uso de legitima defesa de Yakiri não está sendo considerado.
http://lahoguera.confabulando.org/?p=3394
Manifesto Yaki Livre
Liberdade para Yakiri
Se nos julgam por sobreviver, a justiça quer todas nós mortas!
No dia 9 de dezembro de 2013, em Doctores, bairro residencial da Cidade do México, os irmãos Luis Omar e Miguel Ángel Ramírez Anaya sequestraram Yakiri Rubí Rubio Aupart que estava indo encontrar a namorada. Ameaçam-na com uma faca, obrigam-na a montar na moto em que estão e levam-na contra a sua vontade ao hotel Alcázar. No quarto n° 27, Yakiri é insultada, golpeada e torturada sexualmente. Miguel Ángel Ramírez Anaya a estupra e, depois de tudo, tenta mata-la. Yaki consegue se defender, tomando a faca na mão de seu agressor.
Miguel Ángel Ramírez Anaya acaba gravemente ferido, foge em sua moto e morre pouco depois de sair do hotel.
Yakiri chega à agência 50 do Ministério Público, localizada na PGJDF (Procuradoria Geral de Justiça do Distrito Federal) e enquanto fazia a denúncia por estupro, sequestro, tortura e tentativa de homicídio, chega o outro agressor, Luis Omar Ramírez Anaya, e a acusa de assassinar seu irmão. Yakiri é imputada por homicídio qualificado. Levam-na à prisão sem notifica-la desconsiderando a veracidade de sua acusação, deixando ao agressor e cúmplice Luis Omar Ramírez Anaya livre e sem acusações. Duas denúncias e uma só detida: Yakiri.
No dia seguinte, o Procurador Geral de Justiça do DF, Rodolfo Ríos Garza, determinou iniciar um processo por homicídio qualificado, sem levar em conta o contexto de violência sexual em que se deu o óbito do agressor.
Por fim, Yakiri é levada à prisão de Santa Martha Acatitla onde ameaçam e batem nela. Transferem-na à prisão feminina de Tepepan, de onde só sai depois do pagamento de fiança.
Yakiri Rubi é privada de sua liberdade pelo juiz Santiago Ávila Negrón, titular do Juizado 68 Penal. Este juiz é réu em um processo aberto contra ele por assédio sexual a Betzabet Perea em 2011. Além disso, no ano 2004, foi reprovado no exame de atualização, no qual consta que Santiago Ávila Negrón apresenta “falta de técnica jurídica, omissão em notificar as partes, falta de motivação e incongruência em suas resoluções” (La Jornada, Segunda-feira, 16 de fevereiro de 2004).
Mexeu com uma mexeu com todas
A partir da Justiça Feminista sabemos que às mulheres historicamente foi imposta uma condição de obediência das normas patriarcais entre as quais se destaca a violência sexual como prerrogativa de domínio, melhor dizendo, o direito a invadir nossos corpos sem o NOSSO consentimento. É por isso que se castiga às mulheres quando nos defendemos, quando dizemos NÃO e reivindicamos a liberdade e a autonomia sobre nossos corpos.
Sabemos que existe uma cumplicidade evidente dentre os agressores sexuais e as instituições encarregadas de conceder justiça, que costumam proteger estupradores e feminicidas e criminalizar as mulheres ainda que se trate de situações evidentes de LEGÍTIMA DEFESA, como é o caso de Yakiri. Yakiri hoje está viva, lutou por sua vida e por sua liberdade. Nós a queremos do nosso lado e não nos esquecemos de todas as mortas por feminicídios daqui, de outras partes, de todo o mundo.
A liberdade de Yakiri significa a garantia da possibilidade de que todas as mulheres possamos decidir livremente sobre nossas vidas, de defender nossos corpos de toda a agressão. Por isso afirmamos que frente à qualquer agressão contra nossos corpos a defesa é legítima!
Frente à violência machista, autodefesa feminista. YAKIRI: LIBERDADE
#yakilibre
#yakirilibre
#euteriafeitoomesmo
#justiciaparayakiri
#yohubierahecholomismo
Copa do Mundo e a Exploração de Mulheres
A Adidas lançou camisetas para a Copa do Mundo de 2014.
Não me surpreendeu o motivo das camisetas: a objetificação da mulher brasileira e o incentivo do turismo sexual. Numa das estampas uma mulher está de biquíni (obviamente) com a frase “lookin’ to score in Brazil”, que é uma expressão que quer dizer “levar uma mulher para a cama”. A outra estampa é um coração que também é uma bunda de biquíni! É absolutamente absurda a proposta de camisetas da Adidas. O Brazil é bem conhecido mundialmente como destino de turismo sexual e na copa do mundo estima-se que haverá um grande aumento na exploração de mulheres, adolescentes e crianças.
Além de todo absurdo que é a existencia da copa por si só, os desalojos, a gentrificação, a repressão e a violencia policial, a perseguição dos movimentos sociais, que já estão acontecendo, as mulheres mais uma vez são alvos da estrutura capitalista patriarcal. A subjugação das mulheres é norma. As mulheres são estupradas e exploradas sejam nas guerras, sejam em “celebrações”, sejam no cotidiano.
Me angustia ver que mesmo no feminismo existam muitas pessoas que preferem não ver que a exploração sexual de mulheres só existe pela gigantesca diferença de oportunidades entre mulheres e homens.
As camisetas da Adidas além de incentivarem o turismo sexual, são uma ofensa e uma contribuição para que se continue tendo a mulher brasileira, assim como toda latina americana, especialmente as mulheres negras, como mulheres “quentes”, para nos manterem como objetos sexuais para o prazer masculino.
Parem com a exploração das mulheres!
Parem com a cultura do estupro!
Não vai ter copa!